À medida Google e Yahoo! vão em frente com novos dispositivos e serviços, espero que essas distinções se manifestem de forma interessantes e importantes. Ambas as abordagens têm seus méritos, ambas têm seu sucesso e irão continuar a ter. Mas espere alguma tensão nos próximos anos, em particular com relação ao conteúdo.
Por exemplo, no final de 2004, a Google anunciou que iria incorporar milhões de textos de bibliotecas ao seu índice, mas não fez declarações a respeito do papel que a empresa poderia desempenhar na venda desses textos. Um mês depois, a Google lançou um serviço de busca em vídeo, mas, mais uma vez manteve o silêncio sobre como poderia participar da venda de programas de televisão e filmes na Internet. Nesse ano, 2006, a Google arrematou o YouTube em uma transação bilionária e, mais uma vez, fez mistério de seus objetivos.
A Google está claramente no processo de declarar sua posição em relação à indústria do conteúdo e ela parece ser a seguinte: nós iremos nos tornar patrocinadores de sua distribuição. Seremos o meio campo – permita que indexemos seu conteúdo e, quando as pessoas o encontrarem por meio de nós, possibilitaremos que você o venda. – Esta abordagem, tornou-se mais evidente com a discussão e a revelação de uma solicitação de patente de 2004 em nome da Google, que cria um sistema pelo qual a mídia é descoberta e paga.
Nesse sistema, pode-se imaginar que a Google tem ou fará acordos com muitos proprietários de conteúdo e irá, de algum modo, incorporar esse conteúdo ao seu índice (dizem que a empresa está fazendo exatamente isso, mas recusa-se a comentar). Quando você busca alguma coisa, o conteúdo que alguém criou virá nos resultados e, graças aos acordos de distribuição fechados pela Google, você poderá comprar imediatamente esse conteúdo. Todos são pagos!
É claro que, com a Yahoo!, isso já acontece. Mas para a Google, o ato de se colocar na posição de intermediaria de mídia é uma abertura perigosa – em particular porque seu DNA corporativo evita o todo-poderoso dólar como arbitro de qual conteúdo pode ir para o topo da página em uma determinada busca. O papel de intermediária significa que, no contexto de alguém em busca de um filme, a Google irá determinar o resultado mais relevante para termos como “comédia vulgar”, “musical romântico” ou “filme de Jack Chan”.
Para músicas, significa que a Google irá determinar qual fica em primeiro lugar para Britney Spears, mas também significa que ela terá que determinar o que deverá vir em primeiro lugar quando alguém esta buscando “hip-hop”. Quem consegue ser o primeiro nesse sistema? Quem fica com o tráfego, o negócio, o lucro? No mundo real, a resposta é clara: quem pagar mais terá o melhor posicionamento, seja na prateleira do supermercado ou no caixa da loja de discos.
Quando a Yahoo! também se tornar uma super-distribuidora de conteúdo de mídia, não resta dúvida que a empresa irá descobrir alguma maneira para indexar e distribuir conteúdo de mídia moderado pelas tradicionais forças de mercado de quem paga mais e qual é o mais popular.
No entanto, é mais provável que a Google tente surgir com uma solução tecnológica inteligente que procure determinar a resposta mais “objetiva” para qualquer termo, seja ele “comédia romântica” ou “hip-hop”. Talvez a classificação venha a ser baseada em alguma mistura de PageRank, estatísticas de download e Deus sabe o que mais, mas uma coisa será certa: a Google nunca dirá como chegou aos resultados que oferece.
Mas isto cria uma espécie de dilema em termos de ganhar dinheiro. Será que Hollywood estará realmente disposta a confiar na Google para distribuir e vender seu conteúdo na ausência da verdadeira metodologia do mundo comercial: dinheiro duro e frio?
(continua no próximo post: amanhã)